O Mapa da Fome é um dos principais instrumentos globais de diagnóstico da insegurança alimentar. Para compô-lo, a FAO adota como critério central a Taxa de Prevalência da Subnutrição (PoU), calculada com base em três fatores: a oferta total de alimentos no país, a capacidade de acesso da população a esses alimentos (via renda) e a quantidade mínima de calorias recomendadas para uma vida saudável. A média desses dados no triênio mais recente — 2022, 2023 e 2024 — apontou que o Brasil conseguiu reduzir a subalimentação para menos de 2,5% da população. Assim, o país foi oficialmente retirado da lista da vergonha, que voltara a integrar desde 2018.
Esse índice global representa, na prática, a reversão de um quadro alarmante. Dados nacionais do IBGE indicam que, apenas em 2021, mais de 29 milhões de brasileiros enfrentavam insegurança alimentar grave. Em 2022, o Brasil ainda vivia uma das piores crises alimentares de sua história recente. Em menos de dois anos, o governo Lula tirou 24 milhões de pessoas dessa condição. A fome, que havia voltado a assombrar o país nos governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro, foi novamente enfrentada com firmeza pela via do Estado.
O contraste entre períodos é gritante. Em 2014, o Brasil havia saído do Mapa da Fome pela primeira vez, durante o governo Dilma Rousseff, após uma década de investimentos em políticas como o Fome Zero, o Bolsa Família, o Sistema Nacional de Segurança Alimentar (Sisan) e o Consea. A ruptura institucional de 2016, com a destituição da presidente Dilma Rousseff sem crime de responsabilidade comprovado, marca o início de um ciclo de retrocessos. Com Temer e Bolsonaro, programas foram desmontados, orçamentos sociais foram cortados e a fome voltou.
O retorno ao mapa da ONU entre 2018 e 2020 foi o reflexo direto dessa inflexão neoliberal, que minimizou o papel do Estado e agravou as desigualdades. No final de 2021, com Bolsonaro na presidência, mais de 10% da população brasileira estava subalimentada. Enquanto isso, as políticas públicas eram desarticuladas, os dados ignorados e o discurso oficial promovia a falsa ideia de que bastaria “o esforço individual” para superar a miséria